PENSANDO SENTIR
LOCAL - Restaurante
Kazarão - Ponte Nova / MG - Cidade a 80 km após
Ouro Preto
AMBIENTE - Sozinho, eu
tomava uma cerveja enquanto aguardava o jantar ser servido.
Chovia! Minha visão à época foi esta que detalho abaixo:
“Chove lá fora. Os reflexos das
luzes mostram o bailado musicado dos pingos d'água na noite. É o
bailado da vida. É a energia vital que chega atendendo aos apelos
da natureza. E o ciclo se completa. A terra atinge orgasmos
singulares a cada toque musicado de cada pingo d'água. A razão da
vida está presente e é presente. Ao longe, em um galho de árvore,
uma coruja assiste ao espetáculo. Silenciosamente, também ela
participa do orgasmo universal. Para o peixe do rio próximo, a
chuva é apenas uma perturbação do seu meio aquoso. Mas, no fundo,
ele também sabe que é o seu habitat que se amplia e se purifica. É
a certeza da continuação da vida. A chuva diminui seu ritmo, razão
da alteração musical. E a terra orgasmeia mais. Tem a certeza de
que assim pode atender ao seu princípio que é o de multiplicar
tudo o que recebe. É o sistema de poupança universal que funciona
e, cujos juros são pagos pelo sol. Em sua instabilidade natural,
como o próprio universo, o sol nos mostra que, apesar do aumento
da entropia universal, é a partir da instabilidade e da cessão que
se constrói a VIDA. E cumpre o seu papel. Matematicamente! E,
matematicamente, eu penso sentir. É mais uma burrice que cometo ao
tentar intelectualizar o que estou sentindo. A chuva parou. Fim do
orgasmo terreno. A tensão universal se relaxa. E eu a sinto.
Relaxo-me também. Tomo mais um gole de cerveja. A vida segue
inexoravelmente seu rumo. E eu com ela. “
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