LAVRAS!
TERRA DOS
IPÊS, DAS ESCOLAS E DE UM POVO INERTE!
Desde que por
aqui pousei, em agosto de 2006, venho tentando entender esta minha
cidade de Lavras, da qual passei ao longe por mais de 35 anos. Uma
das minhas primeiras atitudes quando cheguei foi a de compartilhar
com meus conterrâneos todo o material didático voltado para a área
de treinamento que eu tinha reunido nas minhas andanças. Ofereci
várias vezes por este jornal. Ninguém se manifestou. Estranhei
pois, se tivesse feito isto em Belo Horizonte, eu teria tido mais
de uma centena de contatos.
Já que não tinha
ninguém interessado nos meus alfarrábios de treinamento resolvi,
eu mesmo, dar treinamentos de graça. Montei então o Projeto
Brindem, um programa de treinamento gratuito voltado para pessoas
que atuassem ou pretendessem atuar na área de vendas. Primeiro,
precisava de facilitadores voluntários para trabalharem comigo.
Noticiei pelos jornais. Depois de muitos convites tive 3 contatos.
Dois, vieram e se foram. A pessoa que veio e continua é a Geisa,
do Via Bella Cabeleireiros. Me animei!
Com o Projeto
Brindem em mãos fui à caça de pessoas e empresas que pudessem
contribuir com alguma ajuda já que o projeto não tinha fins
lucrativos. Contatei várias pessoas ligadas ao comércio, à
indústria, à Prefeitura etc. Contatei pequenas, grandes e enormes
empresas. Pelo tempo que já passou, acho que “esqueceram de mim”!
E o Projeto Brindem jaz aqui em uma gaveta, como se no Congresso
estivesse.
Mas meu esforço
para entender o que está acontecendo com a minha cidade não se
arrefeceu. Apelei para reminiscências da Lavras de antigamente.
Lembrei-me da minha formatura de 4ª série primária no Grupo
Escolar Francisco Sales, em 1956, em primeiro lugar! Da minha
querida professora Da. Maria Helena Evangelista. Da formatura no
antigo Cine Ipê. Lembrei-me das músicas da Cidade e da Escola,
ambas exaustivamente ensaiadas por nós com a orientação da
professora Da. Odete. Lembrei-me do orgulho que eu senti por ter
nascido nesta cidade de Lavras – Terra dos Ipês e das Escolas.
Hoje, mesmo os ipês tendo sido vítimas de desmatamentos, sobraram
as Escolas. Muitas Escolas! Essas, ao contrário, expandiram-se até
os níveis de faculdades e universidades. É! Eu tenho que continuar
tendo muito orgul............EUREKA!!!!! Explicando: EUREKA é a
palavra que normalmente falamos quando temos um insight –
que é a compreensão intuitiva sobre alguma coisa.
Isto significa
que é possível que eu tenha descoberto agora, às 03:01h do dia
07/01/08 porque a minha querida Lavras tem um povo tão inerte,
economicamente falando. Em termos práticos, acho que eu descobri
porque Lavras não tem uma economia tão pujante quanto nossas
vizinhas Varginha, Divinópolis e Pouso Alegre, para citarmos
apenas as mais próximas. Mas para entendermos isto precisamos
olhar com espírito crítico os efeitos colaterais que trazem para a
nossa economia o que temos de mais sagrado na nossa cidade de
Lavras: nossas abundantes escolas
Estou consciente
de que esta minha percepção é muito simples, para não dizer
simplória, de um assunto tão complexo. Mas pode ser que sirva de
ensaio para um aprofundamento maior por parte de algum cientista
político, ou mesmo que este tema possa vir a ser escolhido por
professores(as), candidatos(as) a Mestres e Doutores, nas suas
defesas de tese. Observem abaixo a premissa que utilizei, vista
sob o enfoque dos quatro tipos de metas que as pessoas podem ter
na vida:
1 – Metas
contíguas – São as metas
das pessoas que passeiam na praça aos domingos. Todos têm uma meta
mas estas são individuais e totalmente independentes das metas das
outras pessoas.
2 – Metas
co-orientadas –São as
metas dos alunos de uma escola, ou seja, o diploma. Todos têm a
mesma meta mas ninguém depende do colega para obtê-la.
3 – Metas
competitivas – São as
metas das pessoas que disputam um cargo de chefia, o prêmio da
loteria etc. Todos têm a mesma meta mas digladiam entre si.
4 – Metas
cooperativas – São as
metas, por exemplo, dos jogadores de Vôlei da Seleção vencedora de
Bernardinho. Todos têm a mesma meta mas dependem uns dos outros
para obtê-la. São estas as metas que todas as empresas tentam
implantar junto aos seus funcionários.
Observado por
este ângulo, não foi difícil inferir que as metas dos cidadãos
lavrenses, efeito colateral de termos tantas escolas na cidade,
são co-orientadas. Resumindo, a meta do cidadão lavrense é: “cada
um prá si!”. Outros fatores ajudam para que isto prevaleça: as
empresas aqui instaladas são pouco participativas em atividades
sociais; a grande população flutuante de alunos de outras cidades
que aqui estudam e fazem da nossa cidade apenas uma
cidade-dormitório.
Mas isto tem
conserto? Sim, mas não é tão fácil! A maior dificuldade é a nossa
cultura provinciana que mantém duas correntes políticas inimigas e
a conseqüente polarização dos nossos meios de comunicação, que
ficam brigando entre si por firulas. Se esta energia que os
políticos e os meios de comunicação gastam nesse embate sem trégua
fosse utilizada em favor da cidade tudo seria diferente. E tudo
isto persiste pois, como cidadãos inertes e não-participativos, os
lavrenses não são combativos e não conseguem se indignar com nada.
A outra dificuldade é que as Escolas não conseguiriam transformar
as metas dos seus alunos em metas cooperativas.
E, para não ser
apenas mais um inerte e insosso lavrense, eu quero externar aqui o
meu desejo e a minha esperança de que ainda surgirá em Lavras
um(a) líder Cidadista - se fosse para o Brasil seria Estadista.
Quiçá um(a) líder ao estilo Bernardinho, suprapartidário, capaz de
transformar-nos em cidadãos com metas cooperativas.
Erlei Moreira
Engenheiro, Professor,
Consultor e Escritor.
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