A TRILHA DO BEZERRO

SAM WALTER FOSS (1858 – 1911)

 

 

Chegou 2008! Todo início de ano sugere a oportunidade de fazermos um balanço da nossa vida até então, para que daí possa surgir o norteamento para tempos futuros. Então, nada mais salutar do que relembrarmos agora o texto denominado A TRILHA DO BEZERRO. Este texto, publicado há mais de 100 anos na Inglaterra, pode ser bem atual para nos dar o estímulo necessário ao questionamento de práticas da nossa vida cotidiana, pessoal e profissional. Vamos lá?

 

Certo dia, em meio à mata virgem, um bezerro se encaminhava para casa, como o fazem todos os bons bezerros. Mas o fez por uma trilha em curvas, um caminho tortuoso, como costumam fazer os bezerros. Desde então, duzentos anos se passaram e, presumo, o bezerro já morreu. Mas lá deixou sua trilha e é sobre isso que versa esta narração, de fundo moral.

 

A trilha foi utilizada, no dia seguinte, por um cão solitário que por ali passava. E, então, um carneiro-guia passou a usar o caminho, indo para o vale e para as alturas. E levou o rebanho consigo, também, como o fazem todos os bons carneiros-guia. E, desde então, outros carneiros-guia passaram a usar o caminho, indo para o vale e para as alturas. E, desde então, pelas colinas e clareiras, pelos velhos bosques, um caminho foi rasgado.

 

E muitos homens por ele se enfiaram, para lá e para cá, dobrando, voltando e serpenteando. E murmuraram palavras de justa revolta, pois era uma caminhada um bocado tortuosa. Mas mesmo assim seguiam - não riam - pela trilha do primeiro bezerro. E caminhavam cautelosamente por este caminho serpenteando mato adentro, pois hesitavam enquanto andavam.

 

O caminho na floresta se transformou em uma pista, virando para lá e para cá, virando novamente. A pista tortuosa transformou-se em estrada, onde muitos pobres cavalos passavam com suas cargas. Avançavam lentamente sob o sol inclemente e faziam três milhas para progredir uma. E, desta forma, por século e meio seguiram as pegadas do bezerro.

 

Os anos se passaram velozmente a estrada passou a ser a rua de uma cidadezinha. E, antes que os homens se dessem conta, a movimentada artéria de uma grande cidade. E logo a rua central de famosa metrópole. E os homens, dois séculos e meio depois, ainda seguiam as pegadas do bezerro. Todos os dias, cem mil passantes seguiam o ziguezaguear do bezerro. E por seu tortuoso caminho passou a se fazer o tráfego de um continente.

 

Cem mil homens se deixavam levar por um bezerro, desaparecido havia quase três séculos. Ainda seguiam seu caminho em curvas e perdiam cem anos por dia. Daí, esta alusão ao precedente muito arraigado.

 

Isso poderia ensinar uma lição moral se eu tivesse sido convocado para pregar para os homens predispostos a seguir cegamente as trilhas do bezerro e trabalhar de sol a sol, para fazer o que os outros homens já fizeram. Seguiram a trilha já batida, para lá e para cá, para frente e para trás. E ainda perseguem seu traçado tortuoso, para se conservar no caminho feito pelos outros. Mas como devem rir os velhos e sábios deuses da floresta, os que viram aquele primeiro bezerro na mata virgem! Ah! Esta narrativa poderia ensinar muitas coisas, se eu tivesse sido mandado pregar.

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OPINIÕES DE LEITORAS(ES)

Caro Senhor Erlei. Venho em  meu nome e de meus irmãos, agradecer-te pelas condolências enviadas pelo falecimento de meu pai, Hugo de Oliveira. Fiquei, sinceramente sensibilizada diante de tão grato reconhecimento ao legado deixado por ele e, ao mesmo tempo, envaidecida por saber que o Senhor, pessoa de vasta cultura tivera a humildade de chamá-lo “mestre". Obrigada, pelo respeito, obrigada pelo reconhecimento, obrigada pela lembrança, sabendo nós que, depois de tantas polêmicas (algumas até divertidas) e tantos incômodos (mais divertidos ainda) que ele causava,  tudo  isso, um dia, será esquecido. Para alguns incomodados, essa saída estratégica de meu pai  talvez tenha sido "oportuna", mas para nós, familiares e para pessoas sensíveis como o senhor, foi e será sempre dolorosa. Temos a certeza de que Deus o recebeu com muito carinho, pois pessoa enviada ao mundo com tanta inteligência e capacidade não poderia voltar ao PAI como quem nada tivera realizado. Ele veio e deixou sua marca. E saiba, caro senhor, cada dia mais eu me encho o peito de orgulho para dizer: meu pai? Hugo de Oliveira, "aquele da rádio ... dos jornais ... dos livros..." .

Obrigada.

Christiane de Oliveira.

 

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

 

 

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