EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS - XXIV

 

NOVOS PARADIGMAS, ASSIM COMO OS REMÉDIOS,

PODEM SALVAR OU MATAR!

 

POSFÁCIO DOS TEMAS

 

No 1º artigo: a Era dos Serviços. No 2º: o papel da Direção da empresa. Nos 3º e 4º: Etapas para a implantação de um programa de Excelência em Serviços. Os 5º e 6º:  Etapa I - Identificação das Demandas. No 7º: Demandas Promíscuas. Nos 8º e 9º: Etapa II - “Determinação do Objetivo Principal, da Estratégia e das Metas”. Nos 10º e 11º: teste de Estilos Pessoais. No 12º: Planejamento de Marketing. No 13º: Princípio 01 - Máxima Satisfação dos Clientes - Etapa III - Implantação da Filosofia da Excelência em Serviços. Nos 14ºe 15º:  a importância da Direção da empresa nas mudanças. No 16º: uma mensagem aos sucessores. Nos 17º e 18º: a atividade “Serviço”. No 19º: Pesquisa de Satisfação de Clientes. No 20º: Princípio 02 - Educação e Desenvolvimento das Pessoas. No 21º: Princípio 03 – Qualidade. No 22º: Princípio 04 – Congruência. No 23º: Princípio 05 – Melhoria contínua

 

Continuando ...

 

Neste 24º artigo, vamos falar do Princípio 06 – Princípio da Gestão Participativa, Etapa III - Implantação da Filosofia da Excelência em Serviços.

 

Este princípio leva em conta que o homem atual, notadamente o ocidental, detentor de grande número de informações pela própria força dos meios de comunicação, só trabalha se estiver motivado. Pesquisa feita pelo Datafolha apurou que 69% dos paulistanos tinham pouca ou nenhuma satisfação com o trabalho. Dentre as principais causas desmotivadoras que muitas pessoas citaram, destacam-se os seus impedimentos de atuarem ativamente nas decisões da empresa, com autonomia e co-responsabilidade pelos resultados. Assim, faltam aos gestores empresariais a visão de conjunto e sobram as dificuldades de relacionamento interpessoal. Não conseguem, por exemplo, extrair resultados cinegéticos da união das pessoas. Para entender as razões da desmotivação, basta retroceder ao século XIX e observar que, no início, as empresas foram criadas absorvendo as únicas experiências organizacionais existentes na época: a igreja e o exército. Por isto, absorveram a hierarquia da igreja e a subordinação do Exército. Posturas estas que são vigentes até hoje nas empresas que se utilizam do sistema de administração “Casa Grande e Senzala”. Em seguida, centralizaram o poder, subordinaram pessoas e idéias e, o que é pior, padronizaram indivíduos e funções, numa tentativa inócua de transformar seres humanos em máquinas, Causa e efeito dessa situação percebe-se, tanto do lado do empregado quando da empresa, uma profunda e mútua desconfiança. Sentimento este que foi aumentado a partir de 1981, no Brasil, quando milhares de trabalhadores foram vítimas das demissões em massa. Nesse clima de desconfiança, o único elo de ligação entre o empregado e a empresa é o salário que, por si só, não tem força motivadora.

 

Um primeiro e antigo elemento que contribuiu para esta situação de frieza entre empregados e empregadores foi a Física newtoniana, onde sempre prevaleceu o paradigma mecanicista. De certa forma, por ter chegado a explicações e equações relativamente simples, a Física newtoniana tornou-se uma espécie de matriz para as demais ciências embrionárias. Em termos empresariais, por exemplo, o taylorismo ou "administração científica" concebeu as organizações - fábricas - como grandes máquinas e os trabalhadores como extensões das máquinas que as integravam. Paradigma burocrático este que também é a tradução da concepção mecanicista da administração pública hoje.

 

Com a globalização e os movimentos pela qualidade, verificou-se que as organizações concebidas e operadas no paradigma mecanicista não podiam mais competir em eficiência e qualidade de produtos ou serviços nelas gerados. Há algumas décadas, era possível conceber e operar por longo tempo uma empresa, utilizando-se os mesmos processos e equipamentos, sem que houvesse a participação efetiva do conjunto de agentes organizacionais para a melhoria contínua dos produtos ou serviços. Bastava um pequeno grupo de especialistas reunidos em baias do organograma funcional, quais sejam, "planejamento" e "controle da qualidade". Outro pequeno grupo encarregava-se da "seleção e treinamento de pessoal" de forma que os recursos humanos pudessem ser moldados para as rotinas previamente estabelecidas. Quando, no Japão, adotaram-se novos conceitos de participação das pessoas e o compromisso delas com resultados, tornou-se evidente que o paradigma anterior – controle de processos - desperdiçava os fatores mais importantes para a organização: a vontade e a inteligência das pessoas.

 

Por causa desses novos paradigmas gerenciais que vêm chegando requerem-se funções descentralizadas, participativas, interdependentes e integradas. A eficiência dos processos depende então dos referenciais e recursos neles utilizados. E os recursos humanos são determinantes, pois sua capacitação e motivação é que tornam possível o aumento da produtividade. A vontade e a capacidade dos agentes organizacionais, em última instância, é que configuram uma cultura organizacional de desenvolvimento, estagnação ou regressão.

 

Como se sabe, o homem, pelo seu trabalho, produz transformações intencionais no meio físico e social em que está inserido. Tais transformações podem ser de natureza material, simbólica ou psicossocial. Exemplificando, fabricar um automóvel é exemplo de transformação material. Falar, contar, escrever e pintar, são exemplos de transformações simbólicas. Ensinar, doutrinar, convencer, persuadir e condicionar são exemplos de transformações psicossociais.

 

Tais conceitos da participação pessoal guardam relação muito maior com a Biologia do que com a Física mecanicista. Constata-se, portanto, que é mais adequado compreender as empresas como organismos vivos do que como máquinas. Conceitos estes que são relevantes para a abordagem de uma gestão mais participativa que seja compatível com os novos tempos em que vivemos.

 

               Continua ...

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

 

 

 

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