EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS - XVI

 

AS PESSOAS QUE MAIS RESPEITAMOS NÃO SÃO AQUELAS

QUE NOS DÃO MAIS BENEFÍCIOS MAS AQUELAS QUE,

POTENCIALMENTE, PODEM NOS CAUSAR MAIS PREJUÍZOS.

 

POSFÁCIO

 

No 1º artigo, caracterizamos o que é a Era dos Serviços. No 2º, mostramos que mudanças só são possíveis com o aval e o emprenho da Direção da empresa. No 3º e no 4º, falamos das etapas para a implantação de um programa de Excelência em Serviços. O 5º e o 6º artigos versaram sobre a Etapa I - Identificação das Demandas. No 7º, alertamos sobre Demandas Promíscuas. Nos 8º e 9º, falamos sobre a Etapa II - “Determinação do Objetivo Principal, da Estratégia e das Metas”. No 10º e 11º, disponibilizamos o teste de Estilos Pessoais. No 12º, falamos sobre Planejamento de Marketing. No 13º, iniciamos a Etapa III - Implantação da Filosofia da Excelência em Serviços. No 14ºe 15º, reiteramos a importância da Direção da empresa em assumir a paternidade das mudanças.

 

Continuando ...

 

Neste 16º artigo, estamos levando uma mensagem aos(às) sucessores(as).

 

Quando se fala em sucessão familiar em uma empresa, vem-nos à cabeça uma única coisa: conflito. E é impossível falar de patriarcas/matriarcas e sucessores(as) sem falar disso. Afinal, por que é tão conflitante uma sucessão na empresa? Existem vários motivos mas, fundamentalmente, as divergências existem devido à tentativa de profissionalizar a relação familiar, que normalmente é desgastada pela disputa emocional de poder entre pais e filhos(as) durante a adolescência destes(as). Alguns pais percebem que na adolescência os filhos não aceitam mais ser comandados, mas liderados. Infelizmente, na maioria das vezes, esses pais não são empresários. Por isso vale, de novo, refletir sobre a frase em destaque no cabeçalho e tentar analisar seu conteúdo: as pessoas que mais respeitamos não são aquelas que nos trazem benefícios, mas aquelas que, potencialmente, podem nos causar prejuízo.

 

Na interação entre patriarca/matriarca e sucessor(a), como fica a relação beneficio/prejuízo? Que armas são utilizadas? Se raciocinarmos no limite, veremos que um conflito nessa relação interpessoal tende a trazer prejuízo: a curto prazo para os pais, e a longo prazo para os(as) filhos(as). Como o(a) sucessor(a) normalmente é um(a) jovem adulto(a), fica muito difícil para ele(a) ter uma visão de longo prazo das conseqüências que podem advir dos conflitos com os pais. A isso se alia a verdade de que os pais encaram os filhos de uma maneira diferente da que estes encaram os pais.

 

Assim, potencialmente, os sucessores podem causar prejuízos emocionais aos pais e, estes, prejuízos financeiros aos(às) filhos(as). O que cria um clima de negociação fraco-fraco. Isso nos remete à questão principal deste artigo: que comportamento deve ter um(a) herdeiro(a) que, conscientemente, pretenda reduzir os conflitos e o tempo de aprendizagem empresarial, além de acelerar a conquista do respeito das outras pessoas pelo seu trabalho? Primeiro, reconhecer que a participação do fundador ou fundadora do empreendimento é essencial nesse processo. Segundo, compreender que todo negócio necessita de períodos alternados de revolução e de evolução. A revolução dependerá da sua capacidade critica para questionar o “status quo” existente na empresa pois só assim é possível arejar a cultura empresarial. Já a evolução dependerá da sua capacidade de arrebanhar adesões e coordenar trabalhos em equipe. Para quem se interessar por mais informações sobre evolução/revolução, vale acessar o link abaixo, onde o colunista Henrique Montserrat Fernandez tece algumas considerações sobre o “até hoje” clássico artigo de Larry Greiner, escrito em 1972, onde ele aborda a "Evolução e Revolução no Crescimento das Empresas".

 

http://www.esag.edu.br/biblioteca/colunistas_montserrat20060626.html  

 

Outro fator que precisa ser considerado pelo herdeiro é que este não deve confundir o seu papel na empresa com aquele que assumiu na fase adolescente dentro da família. Ambos normalmente contestam padrões existentes porém, a postura de contestação do adolescente tem uma componente mais reacionária do que revolucionária ou mesmo evolucionária. Isto porque é de praxe entender-se que o(a) adolescente que não contesta, ruidosa e agressivamente, é um(a) “babaca”.

 

Mas existem mais coisas ainda que um(a) sucessor(a) deve fazer! Uma delas é pesquisar e conhecer, historicamente, sobre os fatos e as pessoas que ajudaram a construir ou ainda estão influenciando a nossa realidade. Tanto a nível da sua cidade, do seu Estado ou do País. Exemplos? Nos anos 60 e 70 (a renascença do século XX), época rica em movimentos reacionários, o que aconteceu? O festival de Woodstock, os Beatles, os hippies, a jovem guarda, as passeatas estudantis, as guerrilhas internas etc. O mundo todo estava tal e qual uma panela de pressão. Todos estes episódios, ou movimentos, indicavam uma só coisa: contestação. Acontece que vários personagens daquela época histórica militam hoje em vários segmentos da sociedade: governo, congresso, judiciário, artes, empresas, igrejas, associações e muitos outros.

 

Observando, hoje, os participantes desses antigos movimentos quase podemos confundi-los com os conservadores. Mas o que mudou neles? Tanta luta, para nada? E as suas crenças? E a sua vontade de mudança? Morreram? Tudo indica que não! Eles continuam acreditando em coisas muito parecidas, mas aprimoraram sensivelmente a forma de concretizar os seus sonhos. Não mais através de manifestações ruidosas ou contendas sociais, mas sim, pelos caminhos do entendimento, da busca do diálogo, do acesso às informações. Deixaram de brigar pelas mudanças necessárias - segundo suas crenças pessoais - e passaram a esculpir as mudanças possíveis - segundo as crenças coletivas. Na empresa, o ambiente é propício para a atuação e aprendizagem do(a) sucessor(a) pois este ambiente precisa ser sensivelmente melhorado para abrigar profissionais cada vez mais conscientes de seus direitos como cidadãos e, portanto, pessoas mais exigentes. Sem isso, vai ser difícil conseguir produtividade dessa juventude, muitos deles participantes da legião dos “caras pintadas” dos anos 90. Assim, ao sucessor caberá abrir janelas na cultura da empresa, melhorar seu intercâmbio com a sociedade sem, contudo, deixar ruir o cabedal de conhecimentos ou a estrutura dos procedimentos que mantém a sustentação da sua empresa. Mais ou menos como se o sucessor precisasse construir um segundo andar em uma casa que não tivesse estrutura para suportá-lo. O que faria? Acrescentaria colunas de reforço?

 

Sim! Acrescentar colunas de reforço, principalmente cultural, deve ser o trabalho a ser feito pelo(a) sucessor(a). Construir colunas de forma que estas possam dar à empresa o suporte para os novos tempos. Não se esquecendo, é claro, do uso adequado do poder com coerência e da transparência de suas atitudes. Sempre lembrando que os interessados na empresa não são somente os sócios, mas também os funcionários, os clientes, os fornecedores e a sociedade. Clarificar o objeto principal, a estratégia e as metas da sua empresa. Estabelecer princípios de atuação, considerando que o produto “serviço” perecerá se não for vendido rapidamente, já que um “serviço” não é estocável. Resumindo, o desafio maior desse(a) futuro(a) empresário(a) de sucesso é construir um segundo andar que seja parecido consigo mesmo(a). Uma obra de arte onde, utilizar colunas com cálculos estruturais e belezas intrínsecas sejam produtos de trabalhos elaborados por si próprio(a), como se fossem reflexos da sua individualidade. Mas alguns cuidados devem ser tomados: você, sucessor(a) não deve ir muito afoito(a) a essa realização. Deve buscar conhecimentos, planejar, refletir e consultar. Sem isso, é grande o risco de você construir as colunas sobre a sua própria cama. Sobre o seu próprio pé. Ou pior, sobre o fogão, que é um símbolo do elemento mantenedor da sobrevivência da empresa.

 

Continua ...

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

 

 

 

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