EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS – V

 

O CAPITAL É SELVAGEM MAS NÃO É IRRACIONAL. DOMÁ-LO É IMPOSSÍVEL MAS, DOMESTICÁ-LO, QUEM SABE!


POSFÁCIO

 

Os artigos anteriores desta série tiveram o objetivo de lançar as bases para a busca da Excelência em Serviços. O primeiro serviu para caracterizar o que é a Era dos Serviços e como ela surgiu. O segundo mostrou que qualquer mudança proposta no sentido de melhorar os serviços prestados só é possível se for conduzida pela Direção da empresa. No terceiro e no quarto falamos genericamente das etapas para a implantação de um programa de Excelência em Serviços: I -   Identificação das demandas; II -  Determinação do Objetivo principal, da Estratégia e das Metas; III - Implantação da Filosofia da Excelência em Serviços; IV - Implementação das Mudanças; V -  Ancoragem do Programa.

 

Continuando ...

 

Neste quinto artigo, vamos começar a falar um pouco mais sobre a etapa de Identificação das Demandas na empresa. Antes, porém, é preciso que o empresário, ou o seu preposto, absorva a idéia de que implementar um Programa de Excelência em Serviços é dar inicio, na empresa, a um processo dinâmico e contínuo de mudanças. E mais, a primeira pessoa a mudar a sua forma de pensar e de agir deve ser ele próprio. E esse começo passa, necessariamente, pela conscientização e aceitação de que existem importantes demandas na empresa, além das suas, é claro. Entretanto, mudanças desse teor só acontecem se houver basicamente duas coisas: disponibilidade financeira e vontade política.

 

Mesmo sabendo que durante a sua implantação, o programa carecerá muito mais de determinação e vontade política do que de disponibilidade financeira é o capital que bancará o necessário investimento à alteração do comportamento empresarial, tanto interno quanto externo.

 

Por outro lado, para haver vontade política é preciso, sobretudo, de consciência política. E consciência política, no seu aspecto macro, depende das “informações” e do grau de “sentimento de união” que a sociedade possua. No Brasil, grupos coesos não são muito comuns, principalmente a partir de 1981 quando aconteceram demissões em massa e quebrou-se a magia da confiança mútua entre empregados e empregadores. Além disso, a consciência política individual está diretamente relacionada com o estoque de informações que cada pessoa detém. Mesmo a informação sendo um privilegio da elite, ou seja, apenas uma pequena parte da sociedade a possui, ainda assim, essa elite não consegue fazer muita coisa com ela. Veja abaixo um dos porquês.

 

Como exemplo, ainda sob o aspecto macro, observemos o nosso sistema político-eleitoral. Este, por razões óbvias, mantém uma representação político-legislativa distorcida, ou seja, o voto de uma pessoa do nordeste num deputado federal equivale a vários votos de pessoas do sul e sudeste. Traduzindo: a Paraíba, que tem 2.132.000 eleitores elege 12 deputados = 177 mil votos/deputado; São Paulo, que tem 28.035.000 eleitores elege 70 deputados = 400 mil votos/deputado. Resultado: na eleição de deputado, para igualar o poder do voto de 1 paraibano são necessários 2,26 votos de paulistas. Assim, quem tem, teoricamente, a consciência política não detém poder de legislar sobre ela. Por isso, a convivência do capital selvagem com a irracionalidade política vem expondo a sociedade brasileira a uma quase institucionalização da corrupção. Na verdade, a atual onda de combate à corrupção e de valorização da ética política tem um fundo fundamentalmente econômico: o setor produtivo já não está conseguindo manter o status quo que foi criado pela irracionalidade política. O que nos resta é esperar que a racionalidade do capital domesticado não demore a perceber que a sociedade está querendo mudanças, inclusive na política, e que, quem tem o poder de bancá-las e de realizá-las é o sistema produtivo. Isso porque o capital pode ter vários defeitos, mas não é suicida.

 

Como este é um processo que deve ocorrer de dentro para fora em cada célula do setor produtivo, bancar as mudanças significa para o empresário, começar a implementá-las primeiramente dentro da sua própria empresa, sem medo de erros ou arrependimentos. Mesmo porque ninguém tem experiência suficiente nem uma fórmula infalível que garanta a sobrevivência da empresa no atual mercado. Experiências positivas vivenciadas em determinada empresa, não servem necessariamente para outra apesar de, supostamente, terem os mesmos objetivos e as mesmas características.

 

Supostamente garantidas aqui a disponibilidade financeira e a vontade política, é hora de conhecermos os interesses envolvidos na atividade empresarial. Nos últimos dois séculos, desde que foi iniciada a Era Industrial, as organizações só conseguiram identificar um interessado na empresa: o dono ou o acionista. Hoje, essa postura está comprometendo a produtividade da organização uma vez que dificulta a formação de parcerias.

 

Portanto, não só os acionistas devem ter seus interesses atendidos, mas também os clientes, os funcionários, os fornecedores e a sociedade. Só uma administração equilibrada dessas várias demandas, permitirá a transformação da empresa numa comunidade produtiva. Vale salientar que essas demandas abrangem as situações de natureza tanto tangíveis quanto intangíveis.

 

            Continua ...

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

           

 

 

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