EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS – II

 

O OLHO DO DONO É QUE ENGORDA O PORCO!

 Adágio popular.

 

O primeiro artigo desta série teve como objetivo caracterizar a idéia de que a classe dominante sempre evitou democratizar informações. Quando descuidou e permitiu que isso fosse feito, acabou perdendo o controle do processo e, em conseqüência, a humanidade vê-se hoje diante de um dilema: ou o individuo cria uma rotina de mudanças de seus valores e crenças, ou torna-se um ET dentro do seu próprio mundo. Na vida empresarial, essa revolução questiona o “tudo pela produção” da Era Industrial e sugere um “tudo pelos clientes” da atual Era dos Serviços. As pessoas estão se tornando diferentes, com necessidades diferentes. Portanto, criando um mercado onde quem não se adaptar dificilmente conseguirá sobreviver.

 

Este artigo, por sua vez, defende a idéia de que a implementação de qualquer mudança na empresa só traz resultados se a Direção da empresa estiver determinada a conduzir esse processo. Vamos viajar numa mudança radical?

 

O Brasil, assim como a maioria dos paises, está passando por profundas mudanças nas empresas, resultado da globalização.Na prática, porém acontece o seguinte: para a empresa, a culpa é do cliente - que só quer ficar pechinchando e reclamando de preços mesmo sabendo que a empresa vem arcando com perdas desde 2000, e dos funcionários - que não “vestem a camisa”; para os funcionários, a culpa é da empresa -que só quer explorá-los; para o cliente, a culpa é da empresa e dos seus funcionários - que o atendem mal e ainda estão querendo que ele pague um preço alto por um serviço de baixa qualidade. Uma briga de titãs. De um lado, empresas que nos últimos 200 anos produziram o que queriam, da forma que queriam, para quem pudesse comprar. Do outro, consumidores mais conscientes de seus direitos, com muitas necessidades e pouca disponibilidade financeira. Pior para as empresas pois além de estarem pressionadas por clientes, têm que lidar com as mudanças internas exigidas pelos funcionários e, ao mesmo tempo, tentarem entender um mercado que parece funcionar como uma “vaca louca”.

 

Mas é fácil saber porque as organizações estão tendo tantas dificuldades para sairem desta crise. Para compreendermos suas razões tomemos, por analogia, as enchentes. Muitas pessoas têm suas casas invadidas pelas águas. Têm perdas, mas se adaptam, absorvem os prejuízos e vão levando a vida em frente. Assim, sairá na frente a empresa que considerar a crise atual como uma catástrofe, sem um responsável legal que vá repor as perdas que teve. A partir daí, é sentir o rumo do mercado, se re-posicionar e seguir em frente.

 

Para colocar a empresa no rumo, a Diretoria vai depender de muita determinação. Precisará estar envolvida e comprometida com as mudanças e, fundamentalmente, aceitar uma substancial alteração na estrutura hierarquizada do poder na sua empresa. O “sistema de poder” na organização, tão polêmico quanto o assunto sexo nos anos 60, precisa ser desmistificado e discutido abertamente pela sociedade - este assunto já foi abordado no Lavras News de 09/09/06. Isso porque os mandamentos de Harvard e a unicidade de comando defendida por Taylor e Fayol não funcionam para os indivíduos da “sociedade da informação”.

 

Resumindo, é necessário estabelecer uma nova relação de poder dentro da organização e mudar o enfoque de atuação da empresa. Abaixo, mostramos a estrutura empresarial tradicional, bem como apresentamos a inversão do enfoque piramidal, que propomos. Observe que cada uma das estruturas tem as suas características próprias.

 

Características da estrutura tradicional:

 

 

Valorização de símbolos de status do poder, tais como: vaga privativa na garagem, carro do ano, cartão de visita em alto relevo fotográfico, plano de saúde diferenciado, cantina separada, sala ampla e acarpetada, cadeira mais alta, postura pessoal fria e indiferente, dentre outros; muita competição interna e pouca competitividade no mercado; ênfase na estrutura e no controle das tarefas e das pessoas; padronização de pessoas e funções; canalização para o Departamento de Atendimento ao Consumidor da responsabilidade de bem atender ao cliente; abafamento de quaisquer tipos de conflito: entre colegas, departamentos, níveis hierárquicos, etc; dificuldade de comunicação vertical; avaliação do talento individual só pelo desempenho quantitativo; punição das manifestações de não-conformismo e de questionamento à chefia por parte dos funcionários; medo de arriscar-se e ousar inovações; preocupação de todos em trabalhar mais; etc.

 

Características da estrutura proposta:

 

 

Utilização de pesquisas constantes para identificação de necessidades do consumidor; preocupação da Direção e do nível de Supervisão em apoiar, educar e facilitar as atividades do pessoal de linha de frente para que estes atendam bem os clientes; compartilhamento de objetivos; ênfase no resultado final; valorização do trabalho de equipe; estabelecimento do Contrato Psicológico de Trabalho; entendimento de que as mudanças podem trazer desafios estimulantes; co-responsabilidade de todos pelo atendimento ao cliente; aceitação e administração dos conflitos internos como uma forma de aprendizagem; entrosamento, sem restrições, em todos os níveis de atuação; avaliação do talento individual pela capacidade empreendedora; estímulo à criatividade; aceitação de que as falhas na implementação de novas idéias são positivas e têm valor pedagógico; interesse de todos em trabalhar melhor; etc.

 

Embora as idéias aqui apresentadas possam parecer interessantes à primeira vista, sua implementação não é um trabalho fácil. Na verdade, esta proposta de inversão do enfoque piramidal e de distribuição do poder contraria tudo o que aprendemos até hoje sobre administração de empresas. Em que pese isso, algumas empresas já estão adotando, empiricamente, este novo modelo. O ponto comum entre elas é que, sem exceção, todas têm o processo conduzido pela Direção. Então, a nossa segunda âncora lançada poderia ser: uma organização só consegue mudar se o processo de mudanças for conduzido pela Direção da empresa.

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

 

 

 

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