QUALIDADE TOTAL
Uma moda
prêt-à-porter
(pronta para usar)
Falando em
Qualidade, existe um fato que é absolutamente inegável: o ser
humano e o mundo em geral estão deixando de valorizar a quantidade
para voltar-se à qualidade, com todas as suas nuances.
No Brasil o processo ainda está em
nível bastante incipiente. Dado às propagandas, pode parecer ao
leitor menos afeito à matéria que o Brasil vai muito bem,
obrigado. E não é para menos pois todas as nossas médias e grandes
empresas, estatais e privadas, estão há anos envolvidas com a
implantação de um Programa de Qualidade, e fazem questão de
divulgá-lo.
No sentido prático, que é o que
nos interessa, a questão da implantação da Qualidade nas empresas
brasileiras tem sido utópica. À propósito, conduzir um processo de
mudanças é bem mais do que algumas empresas vêm fazendo, buscando
desesperadamente obter uma chancela para atender às exigências de
suas contratantes: a Diretoria freqüenta alguns cursos sobre
Qualidade Total, contrata uma consultoria externa e passa alguns
dias num Hotel Fazenda participando de jogos empresariais e
planejando as mudanças. Daí, altera alguns métodos e processos
administrativos, corta cargos hierárquicos entre ela e o “chão da
empresa” e cria uma caixinha de sugestões.
Depois, estabelece prêmios para
quem der boas idéias, dependura a foto do empregado do mês em
lugar de destaque e compra alguns botons coloridos e alusivos para
os funcionários usarem. Passo seguinte, programa um treinamento
que ensina o pessoal de contato com os clientes a sorrir e afixa
todo mês um slogan diferente no Quadro de Avisos. Finalmente, faz
uma fita, um VCD ou um DVD com a mensagem da Diretoria para os
funcionários ouvirem duas vezes por semana e, ponto final. Está
pronto um belo programa. Dentro do Figurino da “Moda da
Qualidade”! Agora só falta a última coisa: uma correspondência da
Diretoria determinando o seu cumprimento.
Quem duvida que isto acontece que
vá até as médias e grandes empresas para conferir. Não converse
com a Diretoria, mas com os funcionários. Aí verificará que os
melhoramentos reais obtidos na qualidade dos produtos, na
qualidade de vida dos funcionários no trabalho, na qualidade da
relação da empresa com fornecedores, na qualidade do atendimento
aos clientes e na qualidade do atendimento à sociedade, são
insuficientes se comparados ao volume de recursos que foram
investidos na área da qualidade. Vale lembrar que o ideário e o
interesse maior do empresário, ou do seu preposto, é manter a
qualidade - em quantidades cada vez maiores - do seu lucro. O que
não é condenável, em uma sociedade capitalista. Como a maioria
dessas empresas têm mercado cativo - leia-se manipulado - os
custos são absorvidos pela empresa e repassados aos produtos. E
quem acaba pagando estes custos são os consumidores finais.
Exemplos? Empresas montadoras de veículos, as ligadas à energia,
telefonia, água, petróleo, gás, cimento, aço etc.
Como efeito
dominó, percebe-se que uma gama considerável de pequenas empresas,
principalmente aquelas ligadas à área de prestação de serviços,
vêm buscando investir em Qualidade, mas tendo como referência o
que se denominou chamar de Programa de Qualidade Total. Um erro
crasso. Que acontece porque os brasileiros, como um povo latino,
são mais ligados à forma e menos ao conteúdo. Preferimos teorias
importadas, que tenham nomes majestosos, do que refletir
seriamente sobre os verdadeiros interesses: do proprietário, dos
clientes, dos funcionários, dos fornecedores e da sociedade; sobre
o uso inadequado do poder; sobre o enfoque piramidal de
gerenciamento etc.
E o pior nessa confusão de
importados da Qualidade é que, não conseguindo diferenciar o setor
industrial do setor prestador de serviços, consultores e
empresários tentam implantar sistemáticas de racionalização de
processos produtivos - também chamado de Programa de Qualidade
Total - em empresas prestadoras de serviço. Como se as empresas
fossem semelhantes, independentes do setor a que pertencem.
Isto posto, registre-se minha
discordância em relação a esta Latin Fashion Quality – Moda Latina
da Qualidade. Mas não só isto, já que apenas discordar é cômodo e
não é uma atitude pró-ativa. Mais do que discordar, proponho
registrar através desta coluna, oportunamente, algumas reflexões
sobre as questões particulares que envolvem a implantação de um
Programa de Qualidade em empresas prestadoras de serviço.
Erlei Moreira
Engenheiro,
Professor,
Consultor e
Escritor.
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