PROFISSIONALISMO EM GOTAS

 

Ao que tudo indica, bom senso e profissionalismo são as virtudes mais bem distribuídas do mundo. Nunca ouvi ninguém reclamando a falta delas em si próprio.

 

Com raríssimas exceções, qualquer pessoa que seja submetida a um teste de avaliação do seu profissionalismo fará jus, segundo seu próprio julgamento a uma nota, no mínimo, igual a 100. Inclusive eu. Este postulado, originário do bom senso de cada um, assemelha-se à tendência que todos têm de, numa disputa, torcer pelo mais fraco, desde que o mais forte não seja ele próprio.

 

O bom senso, produto da escala de valores de cada indivíduo, não se baseia na realidade dos fatos, mas na percepção que cada um tem desses mesmos fatos, o que confere a cada pessoa um bom senso diferente. Assim, baseado nesse utópico bom senso coletivo, serão analisados abaixo cinco fatores que contribuem para balizar o que convencionou-se chamar de profissionalismo:

 

1º) – Imaginemos duas empresas: uma, conservadora e paternalista, detentora de um mercado cativo - leia-se manipulado; e outra, bem ao estilo moderno, criativa e competitiva. Imaginemos ainda dois profissionais de Chefia, bem adaptados e envolvidos com a realidade de suas respectivas empresas. Para completar o ambiente deste ensaio, troquemos os profissionais de empresa. Agora, avaliando o desempenho de cada um, não seria de estranhar se o conservador, na empresa moderna, for considerado um calhorda, ditador e autocrata. Ao mesmo tempo, o moderno na empresa conservadora, poderá ser taxado de baderneiro, subversivo e moleque.

Assim, na junção das variáveis para se avaliar o que seja profissionalismo, sempre deverão ser considerados: a pessoa, a empresa, o momento e o lugar.

 

2º) – Observando-se os Manuais de Regulamento Interno de algumas empresas foi detectado que, em média, eles possuem 16,3 laudas (uma lauda tem 20 linhas de 70 espaços cada), onde tratam:

a)     Dos deveres dos empregados – 16,3 laudas

b)     Dos deveres da empresa – 0 lauda

Assim, pelo que é divulgado da relação empregador/empregado, só este tem deveres a cumprir. Deve, portanto, enquadrar-se às exigências da empresa. Ou ...

 

3º) – Segundo a Pirâmide de Abraham Maslow, as necessidades básicas do profissional são: bom salário e boas condições de trabalho. Em seguida, vêm as necessidades de segurança e, logo após, as de aceitação. Só a partir do momento em que parte dessas 3 necessidades forem satisfeitas é que o profissional passará a ter anseios de sucesso, bem como de realização profissional e pessoal.

Assim, apenas os profissionais que tenham as suas necessidades mais básicas satisfeitas é que começarão a se interessar pelo seu próprio profissionalismo.

 

4º) – A veiculação de informações dentro da empresa é fator decisivo para o seu sucesso. Na prática, os meios mais utilizados são as vias “indiretas”, “fofocas” e “recados”.

Assim, o processo de comunicação utilizado no relacionamento profissional é indireto, confuso e falho. As interpretações ficam por conta de cada um e o custo por conta da empresa.

 

5º) – As pessoas buscam, durante todo o tempo, repetir experiências bem sucedidas. Assim, não chega a ser novidade a dificuldade que as empresas têm de absorver idéias novas que impliquem em mudanças.

Assim, as empresas são teatros onde cada um tem papel a representar. Não é bem aceito quem tenta mudar a fala ou improvisar gestos. Isto porque a criatividade e a participação nas decisões da empresa são privilégios somente dos indivíduos de nível hierárquico mais elevado.

 

Levantados tais fatores, pode-se sugerir algumas ações àqueles que tenham interesse e sintam-se motivados a assumirem, responsavelmente, o desenvolvimento do seu profissionalismo, independentemente da empresa em que trabalham.

 

Ação 1 – Faça uma lista de todos os regulamentos da empresa que você tem que respeitar. Inclua também todos aqueles que não estão escritos mas que fazem parte dos usos e costumes da empresa.

 

Ação 2 – A partir daí você deve escolher, conscientemente, alguns regulamentos que poderão ser questionados. Leve em consideração o seguinte: se você trabalha em empresa que estimula a criatividade, o nº de regulamentos pode ser da ordem de 30% a 40%. Em empresa dita normal, o nº de regulamentos questionáveis não deve passar dos 15%. Se a empresa é conservadora, com administração ao estilo Casa Grande e Senzala, 3% estarão razoáveis. A não ser que, além disso, você tenha um Chefe que já atingiu o seu nível de incompetência. Neste caso, não pense em questionar mais do que 1% dos regulamentos.  Assim mesmo, ele terá que autorizar tudo, antes.

 

Ação 3 – De posse da relação de itens questionáveis, reflita sobre eles por 30 dias.

 

Ação 4 – Decorrido o período de reflexão, vem a etapa mais difícil. É chegada a hora de expandir suas convicções para Chefes, colegas e subordinados. Mas lembre-se. Idéias não se impõem e não se negociam. As pessoas precisam ser convencidas por meio de argumentação lógica. E só apoiarão você se houverem benefícios para elas.

 

Como resultado da sua postura assertiva e não-conformista você terá galgado níveis mais elevados na Pirâmide de Maslow. Como benefício adicional, certamente você detectará emergirem os seus sentimentos de profissionalismo e de desafio vencido. E você terá dado o melhor de si, para você mesmo(a) e para a sua empresa.

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

 

 

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