Desenvolvimento de líderes

na convivência com animais

 

HOMEM ALGUM PODERÁ REVELAR-VOS SENÃO O QUE JÁ ESTÁ MEIO ADORMECIDO NA AURORA DO VOSSO ENTENDIMENTO

Gibran Khalil Gibran

 

Questiono! Neste momento de profundas mudanças sociais, devem os líderes empresariais, religiosos, políticos, militares, comunitários etc, estarem em aperfeiçoamento continuo? Se sim, seria interessante, desejável ou necessário que o desenvolvimento deles incluísse a convivência com animais? Para crianças, já é sabido que a convivência com animais ajuda no crescimento pessoal. Não que os líderes sejam crianças, mas são seres humanos que lidam no dia-a-dia com questões complexas. Se este assunto merecer ser debatido eu gostaria, desde já, de fazer a apologia de um animal: o gato. Pela simples razão de que é o animal que tem o comportamento mais aproximado com o da nossa juventude. Juventude esta que vem requerendo dos nossos líderes uma sensibilidade mais depurada. Assim, o título desta defesa poderia ser:

 

GATO - A companhia ideal para líderes: homens e mulheres.

 

A BBDO Wordwide, uma agência multinacional de propaganda, numa pesquisa realizada em 10 países, Brasil entre eles, detectou que o homem e a mulher do futuro serão sensíveis, pacifistas e buscarão qualidade de vida. Buscarão “ser” ao invés de “ter”. Serão mais conscientes de seus direitos e deveres como cidadãos, especialmente no que diz respeito ao seu próprio habitat. Então, respeitar e entender a biosfera do nosso planeta é uma atitude politicamente correta e recomendável, notadamente para líderes.

 

Data venia, o gato é o mais misterioso e fascinante dos animais que já viveram com o homem. Este felídeo (família de animais que possuem unhas retráteis) foi o último dos animais domesticados, ou quase domesticados. Afinal, para que ele servia? Não caçava para o homem como o cão, nem transportava como o cavalo e tampouco fornecia leite ou carne como a vaca. Ao contrário do cão, que convive com o homem há 45.000 anos, as mais antigas informações sobre os gatos vêm do antigo Egito, há 4.500 anos. Aí o homem, sensível como é, deixou-se encantar por este belo animal, mágico e ágil, selvagem e indolente. Que de passagem era a única forma eficiente de acabar com os ratos que destruíam as provisões armazenadas.

 

Por estas características é que o gato passou a ser adorado pelos povos antigos como se fosse uma divindade. No antigo Egito, quem matasse um gato podia ser condenado. Associado ao Deus Rá, era até embalsamado e enterrado com os Faraós, para dar sorte. Uma deusa Egípcia, chamada Bast, tinha a cabeça de gato e simbolizava a fecundidade e a beleza. Na Índia, a divindade felina chamava-se Sasti. Na China, o gato era tido como símbolo da paz e da sorte. Nos países árabes do Islã, simpatias ao gato superavam às dedicadas ao cavalo; até Maomé tinha uma gata chamada Muezza. No Japão do século IX o gato era alimentado e mimado como os famosos cães de salão.

 

Na antiguidade, entretanto, tanta adoração e reverências ao gato só podiam provocar insatisfações. No século XII, a Igreja, não tolerando mais as adorações ao gato, passou a condenar o animal à fogueira alegando que ele representava o paganismo. A Inquisição (antigo tribunal eclesiástico instituído com o fim de investigar e punir os crimes contra a fé católica), reunia nas suas fogueiras: os hereges, as bruxas, os assassinos e os gatos. Como fizeram com Joana D’Arc e que mais tarde foi reconhecida como santa. Esse período negro da história da Igreja já obrigou Papas a pedirem desculpas à humanidade. Afinal, no ano de 1400, vítima de crueldades, a espécie gato chegou a ser considerada “em extinção”.

 

De lá para cá, com defesas de grandes líderes, tais como os escritores (La Fontaine, Shakespeare, Alexandre Dumas, Victor Hugo), músicos (Edvard Grieg, Jules Massenet, Tchaikóvski, Domenico Scarlatti, Rossini), pintores (Leonardo da Vinci, Paolo Veronese, Rembrandt, Delacroix, Renoir, Picasso), cinema (Walt Disney), religiosos (Papa Leão XII, Cardeal Richelieu) e do rei Luiz XIV, da França (que proibiu a matança de gatos), a figura deste animal vem sendo aos poucos desmistificada. Mas a condenação do gato pela Igreja há nove séculos atrás ainda permanece viva em nossa cultura. Dizem que o gato é um animal traiçoeiro, que quando ataca a pessoa vai direto ao pescoço e outras tantas sandices. Quem não conhece casos de atropelamento voluntário de gatos? Pessoas que dão veneno ao pobre do animal porque acham que assim estão purificando o mundo? Você sabia que ainda hoje pessoas sacrificam gatos pretos por acharem que eles dão azar? Até quando esta nossa sociedade, tida como a “sociedade da informação”, vai permanecer impassível diante desta atrocidade, desta vingança sem qualquer sentido? Se a própria Igreja Católica já reconheceu várias vezes que cometeu erros na condenação aos gatos, porque os cristãos, tanto católicos quanto de outras religiões, ainda continuam exterminando os gatos? Será por maldade? Ou pior, por ignorância?

 

Por tudo isso é que, para os(as) líderes do futuro, conviver com o gato pode constituir-se numa rara oportunidade de introduzir em suas vidas um pouco da natureza intocada. Isto, sem contar com a possibilidade de aprender muito com eles, com sua maneira desinibida e seu forte senso de identidade pessoal. Seja por instinto ou egoísmo saudável, os gatos parecem estar sempre muito satisfeitos consigo mesmos. Parecem já ter aquilo que todo ser humano busca: a paz, a serenidade e a auto-suficiência. Um animal, entretanto, que só funciona quando tem vontade, ou é estimulado. Muito parecido com os adolescentes e os jovens adultos da raça humana.

 

Então, é chegada a hora de reintegrarmos o gato na nossa sociedade, na nossa família, no nosso mundo. Mas não é só isso. Precisamos incentivar a convivência de nossos líderes com este animal. Pois eles terão muito que aprender com ele. Com sua espontaneidade, sua alegria de viver. Mais, aprenderão o quanto é prejudicial a opressora afetuosidade humana, com seus jogos psicológicos e de poder, que o gato não aceita. Uma experiência que, bem aprendida, poderá ajudá-los nos relacionamentos interpessoais com seus liderados: funcionários, fiéis, eleitores, clientes, comandados, família, amigos, parentes e colegas. E todos poderão ser mais felizes.

 

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Mil beijinhos para as minhas crianças adotivas e meus mestres felinos.

 

Caquinho – 9 anos e 3 meses – Branco com manchas amarelas. O mais velho. Vive comigo no meu espaço. Os outros ficam no gatil.

Piteco – 9 anos e 1 mês – Tigrado puxando mais para o preto. O mais dengoso e carinhoso.

Pretinha – 9 anos e 1 mês – Irmã do Piteco. Toda preta, com duas dezenas de pelos brancos. A que mais me chama.

Trapinha – 9 anos – Tigrada normal. Muito carinhosa e tranqüila. Adora lamber os gatos e as pessoas.

Linda – 8 anos e 4 mês – Amarelo claro com nuances brancas. A mais ressabiada.

João Grandão – 8 anos e 4 mês –Branco com manchas pretas. 7 quilos. É o maior dos gatos. É também o mais calmo.

Barbicha – 6 anos e 2 meses – Todo pretinho. O mais quietinho. O que presta mais atenção quando falo com eles.

Loura – 6 anos e 2 meses – Tigrada de amarelo e branco. A mais agitada. A mais inquieta.

Fininha – 5 anos e 2 meses– Peluda e cinza. A mais enrolada (pelos). Tem câncer no fulcro maxilar há 3 anos.

Maizena – 5 anos e 1 mês – Branco com manchas em cinza escuro. O mais guloso. O mais inteligente.

Veludo – 4 anos e 11 meses – Todo preto. É o 2º maior gato. O mais selvagem. O que exige de mim mais atenção.

Camelinha – 4 anos e 11 meses – Irmã do veludo. Mistura de preto e louro. Cor de uniforme militar de guerra. A mais desligada.

Floquinho – 2 anos e 6 meses – Todo branquinho. Miado esganiçado. Um doce. Eu cuido, mas ele é do meu neto Henrique.

Menino – 1 ano e 5 meses – Tigrado de amarelo e branco. O mais criança. Instinto puro, sem medos.

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

 

 

 

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