TREINAMENTO INTENSIVO

 

“ Não há população educada que seja pobre; e não há população analfabeta que seja rica. ”

John Kenneth Galbraith

 

Esta posição de Galbraith, considerado um dos mais notáveis economistas do fim do século passado, é uma dentre as tantas vozes internacionais que se juntaram a outras nacionais na defesa da idéia de que o subdesenvolvimento e a miséria são, em princípio, produtos da desinformação e da ignorância.

 

Não é novidade para os bem informados que nessa nossa Belíndia - cognome dado ao Brasil pelo economista Edmar Bacha por representar uma mistura de Bélgica e Índia - pior do que a distribuição de rendas só mesmo a distribuição da informação, seja por meio da educação formal ou de treinamentos. Pesquisas elaboradas pela HBR (Harvard Business Review), de 7 itens que foram colocados aos empresários para que escolhessem o mais importante para o sucesso da empresa, o item “mão-de-obra treinada” obteve o índice de 18% dos brasileiros, contra 62% dos alemães e 49% dos franceses.

 

A prova da importância com que a comunidade internacional vem encarando a educação é que 95% de empresas pesquisadas em todo o mundo apóiam seu próprio engajamento na questão. Destas, 77% defendem um maior envolvimento e 18% só admitem dar ajuda financeira. Numa época em que nos próprios meios econômicos já é aceito o termo “investimento em recursos humanos”, o BIRD aponta que: “um ano a mais na duração média da educação pode aumentar o PIB em 3%”.

 

Dentro deste quadro, torna-se oportuno tecer alguns comentários sobre a educação e o treinamento no Brasil. Vale ressaltar que o treinamento é tido como a “educação profissional” que prepara o ser humano para resolver eficazmente as tarefas que estejam ligadas aos seus cargos ou funções empresariais.

 

Sob a ótica social, apesar da educação no Brasil ser encarada como responsabilidade dos governos e o treinamento como responsabilidade das empresas, ambos promovem o aperfeiçoamento integral de todas as faculdades do ser humano, formando o cidadão para o pleno exercício dos seus direitos. Entretanto, não podemos deixar de reconhecer:

- a participação dos meios de comunicação de massa na informação e formação do nosso povo;

- a inestimável contribuição da internet no nosso cotidiano;

- o grandioso trabalho que ONG`s e grupos de pessoas anônimas vêm fazendo em prol da educação do nosso povo;

- o resgate que o advento da informática trouxe do sistema milenar de transmissão de conhecimento: a verbalização. Para compreender do que é capaz este sistema informal de educação basta observar as dezenas de pessoas idosas, muitas delas analfabetas, que diariamente enfrentam filas em caixas eletrônicos e que já conseguiram estabelecer uma interface positiva e tranqüila com esses equipamentos. Estas cenas me sensibilizam tanto que lágrimas já me escaparam em algumas situações.

 

Sob a ótica econômica, investir em recursos humanos é ter retorno certo. Como já dissemos no artigo “RECURSO HUMANO OU PESSOA?” publicado na Tribuna de Lavras de 10/02/2007: Treinar é como plantar! Só o faz quem tem olhos para o futuro. Investindo 0,8% do faturamento total anual da empresa garante 40 horas de treinamento para cada colaborador, a cada 2 anos. A base para se chegar a esta estimativa é bastante racional. É aceitável, por exemplo, que todo funcionário deva ser treinado no início de cada nova função e reciclado a cada dois anos. Este é um período adequado para prevenir-se contra a desatualização e o esquecimento de informações. Assim, estimando-se também que o treinamento de cada colaborador custe o equivalente a um salário mensal do treinado, uma empresa que treine todos os seus funcionários em intervalos de dois anos terá um dispêndio mensal de 4,2% (100% dos salários/24 meses) da folha de pagamentos. Vale lembrar que estamos tomando uma empresa de composição média em termos de faturamento/nº de empregados. Neste caso, como a despesa com salários pagos representam 65% dos gastos de pessoal e estes, 30% dos custos totais, temos que o rateio mensal do treinamento de todos os funcionários representa, em média, 0,8% (4,2% x 0,65 x 0,30) do custo final. Como já dito, investir 0,8% do faturamento da empresa podendo ter um retorno em produtividade que pode superar os 30%, não deixa de ser um excelente negócio.

 

Sob a ótica profissional, a reciclagem sistemática do pessoal dá mais versatilidade à empresa, propiciando uma rotina de mudanças como convém a uma organização dinâmica que quer produzir bons produtos ou serviços e bem atender os seus clientes.

 

Sob a ótica pessoal, o desenvolvimento do indivíduo via treinamento certamente restabelece um elo que, devido às demissões em massa que começaram a ser praticadas no início dos anos 80, acabou se desfazendo: a lealdade do funcionário com a empresa. Numa convivência laboral saudável, o trabalho deixa de ser uma obrigação para transformar-se em algo prazeroso.

 

Sob o aspecto geral, a educação e os treinamentos em todas as suas vertentes podem nos ajudar a reconstruir a cara do nosso Brasil. Não só a cara, mas o corpo todo. Reconstruir? Isto mesmo! Pois a cara que temos foi-nos dada em 1942 por Walt Disney, dentro da política americana de boa vizinhança na II Guerra Mundial, que foi a figura do Zé Carioca: um papagaio simpático, malandro, falastrão e esperto. E esta é mais ou menos a idéia que o mundo tem da gente. E esta é a face verdadeira do Brasil e também nossa, os brasileiros. Um povo esperto! Esta gente simpática que somos, condescendente e conivente com todos os “Zé Carioca’s” que permeiam nossa sociedade. Sociedade esta onde a ideologia fala mais alto do que a ética e a justiça. E esta é também a cara do nosso Congresso, dos nossos Governantes e, pasmem, até da nossa Justiça. Com este currículo de país, dizer que Deus é brasileiro, mais do que desrespeito é uma sacanagem com Ele. Por isso, o que nós temos que reconstruir neste Brasil não é pouco e só o faremos se conseguirmos educar a nossa gente. Mas como não poderia deixar de ser, todo este alagado de maus exemplos está servindo de base para que brote nossa flor-de-lótus: os nossos valorosos Promotores de Justiça. Os Baby Busters, protagonistas criados pela pesquisadora Claire Raines, consultora americana (este tema completo faz parte do artigo “O PODER NAS ORGANIZAÇÕES – Meio ou Fim?” publicado na Tribuna de Lavras de 13/01/2007).

 

E si Deus fô mermo brasilero, vamo torcê prá qui Ele Se ajude! Pois Ele Se ajudano, tarveis sobre uns respingo de justiça pra nóis todos, o qui já taria bão dimais!

 

Para saber mais sobre o nosso honorável embaixador mor, o malandro e esperto Zé Carioca acesse

http://www.estadao.com.br/ext/disney/bra.htm.

 

Para mais informações sobre flor-de-lótus, que representa a pureza pois emerge limpa e imaculada do meio de águas turvas e lodosas, acesse

http://www.cacp.org.br/flor-de-lotus.htm

 

Erlei Moreira

Engenheiro, Professor,

Consultor e Escritor.

 

 

 

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