O CUSTO VIRTUAL – I
I
NADA MAIS PRÁTICO DO QUE UMA
BOA TEORIA.
Einstein
O comportamento
dos países, Brasil entre eles, tem-se mostrado cíclico com
períodos de evolução e de revolução. Caracterizando a atual
situação internacional, detecta-se um fenômeno revolucionário
complexo, produto de crise orgânica. Entretanto, apesar dessa
complexidade global, no Brasil existem três fatores preponderantes
que podem ser considerados causais e, portanto, serem objetos de
análise para vencer a atual fase e alcançar o nosso próximo
estágio de evolução. Quiçá facilitando a consecução dos benefícios
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento proposto pelo
governo).
O primeiro fator
a ser considerado é o sistema inadequado de distribuição das
riquezas produzidas. Simploriamente pode-se dizer que parte dessas
riquezas é distribuída através de salários, aposentadorias e
pensões e a outra, por meio da corrupção. Esta, como vimos
percebendo há tempos, está muito difícil de ser erradicada pois
tem raízes mais profundas do que as da guaxuma (guaxima) e,
notadamente, conta com a benevolência da sociedade e a inoperância
da justiça.
O segundo fator é o alto custo
passivo (improdutivo) da sociedade. Comparando-o com um motor de
automóvel, o custo passivo é o que se gasta de combustível para o
motor funcionar apenas em marcha lenta, com o veículo parado.
Parte significativa desse custo passivo advém de duas fontes: da
ineficiência das administrações públicas federal, estadual e
municipal e da falta de empenho e dedicação no trabalho por parte
da maioria dos trabalhadores dos setores público e privado.
O terceiro fator a considerar é a
falta de consciência destas questões devido principalmente, à
baixa escolaridade da população e a falta de acesso às
informações, sejam elas de nível acadêmico ou de nível geral:
como, por exemplo, este artigo.
Os custos sociais, gerados pelas
várias distorções acima mencionadas, têm semelhanças entre si: são
provocados por uma parte da sociedade e pagos por outra. A única
exceção é o custo da desmotivação e das insatisfações no trabalho
– ligados ao segundo fator - no qual todos, de alguma forma,
participam da sua formação. Este custo, que no artigo anterior nós
o chamamos de Custo Virtual, pode não ser muito bem aceito ou
compreendido pelas empresas, mas ele existe e é significativo.
Exemplo? Em pesquisa realizada pelo Datafolha em São Paulo foi
apontado que 69% dos paulistanos têm pouca ou nenhuma satisfação
com o trabalho e 68% estão inseguros no emprego. Daí podemos
inferir que, neste caso, o custo/tarefa empresarial certamente
está acima do que seria desejável.
Para entender um pouco das razões
da desmotivação com o trabalho, basta retrocedermos ao início do
século XIX , época em que as empresas começaram a se formar. Isso
deu-se a partir da “Queda da Bastilha” na França, em 1789, data
esta que é tida como o início da “Revolução Industrial”. Vale
lembrar que o trabalho até então era tido como coisa de escravo.
Como os empreendedores da época não tinham experiência para formar
e administrar grupos, eles criaram as suas empresas eliciando duas
experiências vitoriosas: a hierarquia da Igreja e a
subordinação do Exército. Passo seguinte, centralizaram o
poder, subordinaram pessoas e idéias e, o que é pior, padronizaram
indivíduos e funções, numa tentativa inócua de transformar seres
humanos em máquinas. Daí surgiram as famosas administrações que
batizamos como Casa Grande e Senzala.
Causa e efeito
dessa situação, percebe-se, tanto do lado do empregado quanto da
empresa, uma profunda e mútua desconfiança. O tipo de relação cujo
único elo é o salário que, por si só, não tem força motivadora.
Não existindo ligação afetiva entre as duas partes a relação vira
um jogo de sedução, ou seja, enganam-se ardilosamente prometendo
coisas que, já sabem de antemão, não irão cumprir. Por isso, o
departamento de Recrutamento e Seleção das empresas poderia ser
perfeitamente chamado de Recrutamento e Sedução.
Caracterizadas as origens do Custo
Virtual, é hora de falarmos em soluções. Racionalizando as idéias
que poderiam ser colocadas em prática, percebe-se que elas apontam
numa única direção: a melhoria do ambiente de trabalho. Para
tanto, existem ações que precisam ser implementadas, mas que só
terão sucesso se houver o comprometimento do responsável pela
empresa. Isso porque, sem desfraldar a bandeira socialista é
preciso reconhecer, inequivocamente, que só a empresa tem cacife e
poder de barganha para tomar a iniciativa e bancar a reversão
deste quadro. Se não for por razões sociais, que sejam por razões
econômicas e de sobrevivência da empresa. A sociedade está
exaurida e não tem mais condições de absorver o Custo Virtual.
Sob o aspecto econômico, adequar o
seu ambiente de trabalho é o melhor investimento que uma empresa
pode fazer. Há exemplos de que a produtividade da empresa pode
subir acima dos 30%. Complementando, é fundamental compreender
que, quando se investe em recursos humanos, o custo maior não é o
de capital, mas sim, o de tempo e de paciência para esperar que as
novas idéias possam ser internalizadas e praticadas pelos
participantes (inclui-se aqui a Diretoria).
Sob o aspecto
técnico, envolvendo as questões de conteúdo, vale lembrar que cada
empresa, em função da sua cultura, deve adotar uma metodologia
própria para a implementação das mudanças que se fizerem
necessárias. Isso porque, não pretendo propor aqui um modelo de
administração, mas lembrar preceitos que poderão ajudar as
empresas a “virarem a sua própria mesa”. Sabemos que uma proposta
como esta que aqui está sendo feita, baseada no entendimento de
que cada empresa é única e deve criar suas próprias soluções,
contraria a nossa cultura de povo colonizado. Cultura esta que
valoriza mais as soluções importadas que criam modismos
administrativos com nomes sofisticados. Resumindo, boa parte dos
empresários tendem a preferir uma solução administrativa à moda
prêt-à-porter (pronta para usar).
Pragmaticamente falando, para que
um ambiente de trabalho possa ser considerado cooperativo e
positivo, além de gerar ganhos de produtividade, é de fundamental
importância que estejam sedimentados alguns preceitos mínimos de
administração, do tipo:
Como resultado desta
reorganização, certamente será adquirida a confiança mútua, a
motivação para o trabalho, a criação de sinergia interna e a
efetivação do Contrato Psicológico de Trabalho do colaborador com
a empresa. Como conseqüência, instituir-se-á o Salário Felicidade,
start para um efetivo aumento da produtividade, que é o
único antídoto capaz de reduzir o Custo Virtual e restabelecer a
dignidade e a felicidade do colaborador dentro da empresa.
Erlei Moreira
Engenheiro,
Professor,
Consultor e
Escritor.
RETORNAR |