O CUSTO
VIRTUAL - I
NADA MAIS PRÁTICO DO QUE UMA
BOA TEORIA.
Einstein
Muito se tem falado nos últimos
tempos sobre os custos nas empresas e a sua importância dentro do
cenário de uma economia de mercado. Tido tecnicamente como “a
mensuração da transformação de ativos”, o estudo dos custos e de
suas implicações dentro e fora das empresas tem provocado
polêmicas e até gerado dúvidas. Senhor Todo Poderoso em qualquer
regime político ou sistema de governo, com a mesma força que
permite a geração de riquezas e sucessos inviabiliza carreiras,
empresas e até paises.
Na empresa, pelo sistema
convencional, a mensuração dos custos consiste na somatória dos
valores gastos com recursos materiais, humanos e financeiros num
processo produtivo. Por isso, para manter-se viva, o grande
desafio da empresa é manter o custo do seu produto ou serviço
sempre abaixo do preço que o mercado se dispõe a pagar por ele. Se
a diferença entre o preço de venda e o custo for positiva e
satisfizer à empresa como taxa de lucratividade, mesmo que o custo
esteja alto, ponto final. Entretanto, se a diferença for negativa,
ou positiva mas considerada pequena, é hora de sair cortando os
gastos, habitualmente começando por recursos humanos. Assim,
administrar os custos parece ser, de fato, o pecado original das
empresas, fadadas que estão a expiá-lo por toda a sua existência.
De resto, esta é a única forma de manter a empresa viva durante o
período para o qual ela foi criada: a eternidade.
Manter a empresa viva, para a
pessoa que a criou ou para quem a dirige, é ter a oportunidade de
realizar um sonho comum a todos os homo sapiens: tornar-se imortal
através de uma criação eterna, transcender-se à sua própria morte.
Melhor do que plantar uma árvore ou escrever um livro, a empresa
proporciona reconhecimento social, poder econômico, poder
político, prestígio, realização profissional etc. Isso porque a
empresa é tida por todas as sociedades capitalistas como sendo a
mola mestra e a responsável por toda a evolução contemporânea.
Se administrar os custos sempre
foi uma obrigação, racionalizá-los é uma questão de sobrevivência
para toda e qualquer empresa no atual momento. Mas como
racionalizar custos? Cortando despesas ou aumentando
investimentos? Nessa ou naquela área?
Diante desse quadro é oportuno
demonstrar, através de uma boa teoria, que os custos em uma
empresa precisam ser visualizados dentro de um novo paradigma.
Explico! Quando se fala em custos, todos pensam em interpretações
quantitativas de tabulações numéricas que, imaginam, refletem a
total performance da empresa. E este é um paradigma que precisa
ser mudado. É preciso também abrir caminho à reflexão sobre o
valor qualitativo de um número.
No sentido figurado, custo também
significa dificuldades, esforço, trabalho. Este custo, ao
contrário do que se possa pensar, está embutido em qualquer
produto ou serviço como um agregado intangível emanado das pessoas
que contribuíram para a sua realização. Pessoas que também têm
necessidades a satisfazer, muitas vezes, básicas.
Esse custo intangível, que pode ser
chamado de custo virtual, é parte integrante dos métodos e
processos utilizados pela empresa. É mínimo quando as pessoas
envolvidas estão motivadas, seguras, co-responsáveis e confiantes.
E é máximo quando as pessoas de uma empresa estão desmotivadas,
chateadas e infelizes. Portanto, o custo virtual é um agregado do
custo final, às vezes muito representativo, que vai se tornando
menor na medida em que crescem o empenho e a dedicação das pessoas
no trabalho.
Tomando-se que o custo virtual seja
efetivamente factual, vem a seguinte pergunta: o que pode ser
feito para minimiza-lo? Reflexões feitas a respeito deste tema
tem-nos mostrado que dentro de um processo de minimização do custo
virtual para racionalização do custo final é mister compreender
que:
-
Os custos como um todo não são
uma questão puramente matemática mas, sim, ampla e complexa. Sob
este novo paradigma, os números devem ser avaliados não só
quantitativamente nos campos técnico e econômico mas,
qualitativamente, nos campos administrativo, social,
psicológico, relacional, do direito individual etc.
-
As mudanças, em princípio, só
acontecem em ambiente de negociação informal, seja esta
consciente ou inconsciente. Portanto, empresas que utilizam
administração ao estilo “Casa Grande e Senzala” terão muito mais
dificuldades para realizar estas mudanças.
-
O processo de redução do custo
virtual, por envolverem mudanças de valores e comportamentos das
pessoas, deve ter caráter pedagógico, e não punitivo.
-
As energias criadora e
inovadora, bem como o imobilismo, convivem pacificamente dentro
da natureza dicotômica do ser humano. E só se manifestam de
acordo com uma regra básica: o indivíduo só age visando
benefício próprio. Traduzindo, não basta que a redução do custo
virtual seja um benefício para a empresa. É fundamental que
também seja um benefício para os seus colaboradores.
Finalizando, não importa o grau de
aceitação que cada empresário ou administrador possa vir a ter das
idéias aqui colocadas. Importa, sim, a certeza que eles tenham de
que, cuidar adequadamente dos custos é o único meio de garantir a
sobrevivência e a eternização da empresa.
Erlei Moreira
Engenheiro,
Professor,
Consultor e
Escritor.
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