ENTREVISTA  DO  ERLEI  PARA  A  TRIBUNA  DE  LAVRAS 

Tribuna de Lavras = TL  -  Erlei Moreira = EM 

 

Sessenta anos! Normalmente, essa é a idade na qual se estabelece um divisor de águas na vida da maioria das pessoas: a aposentadoria, a vacina gratuita, a cesta de remédios, os caixas especiais nos bancos e supermercados, o equilíbrio instável, a artrite, o medo do Parkinson e do Alzeimer, o preconceito dos mais jovens, enfim, o início da vida de ancião(ã).  

 

Entretanto, conversar com este sexagenário lavrense, que passou quase quatro décadas fora de Lavras, inclusive com trabalhos feitos pr’além mar, parece contrariar toda a cultura da velhice a que estamos acostumados. Uma pessoa com vários contrastes: irrequieto, mas calmo; um lado engenheiro de visão mecanicista contracenando com seu lado pessoal de sensibilidade poética; um escrever fácil se contrapondo a uma timidez latente; um introspectivo de idéias expandidas; ousado e conseqüente; às vezes polêmico, mas sempre autêntico e de idéias claras. Cheio de energia e de projetos futuros.

Para a sua volta à Lavras e a sua participação agora como colaborador deste jornal, onde pretende falar sobre empresas, negócios e poesias ele dá uma explicação - poética, é claro! “Analógica e metaforicamente falando, estou como uma tartaruga marinha, hermafroditamente emprenhada, nadando em busca da minha praia de origem para a desova das minhas experiências vivenciais. Os ovos, produtos das minhas vivências, reflexões e percepções da vida precisam ser doados a alguém para que possam eclodir e, quem sabe, ajudar pessoas que estejam tentando montar seus quebra-cabeças existenciais, como eu”. Vamos à entrevista!

 

TL – Erlei, com tanta dicotomia interna, como você consegue manter-se em equilíbrio e nessa paz aparente?

EM – Talvez eu seja portador é de policotomia, por ter tantas fontes internas e externas de informações conflitantes. Se eu ainda não fiquei “pirado” foi porque eu não tenho uma crença já formatada sobre as coisas. É que eu duvido que existam verdades absolutas e o meu estímulo de vida sempre foi o de perscrutar para além dos dogmas, dos preconceitos e dos meus próprios medos. É a minha forma de vivenciar experiências radicais, onde eu sou a cobaia de mim mesmo! Uma vida ao estilo Fernão Capelo Gaivota (livro de Richard Bach), repleta de vôos rasantes e espetaculares, mas com os seus inevitáveis acidentes! Sobre o meu equilíbrio e a minha paz interna, eles vêm do fato de eu conseguir administrar bem os meus conflitos do PAC, que são os estados de ego teorizados por Eric Berne. O PAC – que tem até testes escritos - pode ser um conceito interessante para ser compartilhado com os leitores, oportunamente. E já que as pessoas não vêm ao mundo com um manual de instruções informando como elas funcionam, todos nós temos que descobrir como viver, vivendo. Em assim sendo, estou satisfeito com a forma, o conteúdo e a direção que tenho dado à minha vida. Por esta amplitude de foco, eu posso considerar-me um franco-atirador. Uma pessoa sem “pré” conceitos e isenta para falar de, ou sobre, qualquer coisa podendo até mesmo protagonizar um “eu, caçador de mim” - da música “Caçador de Mim” do Milton Nascimento e Fernando Brant.

 

TL – Muito tempo fora de Lavras?

EM – Eu nasci aqui no apagar das luzes de 1945 e mudei-me para Belo Horizonte em janeiro de 1971, com 25 anos. Retornei agora, em agosto de 2006. Em Lavras eu vivi a minha infância. Estudei no Grupo Escolar Francisco Sales e no Colégio Aparecida. Apaixonado, casei-me em 1963 aos 17,5 anos. Antes dos 21, minha família já estava completa: Graça, Rose, Cida e Erlei Junior - hoje acrescida de mais quatro netos. Aqui, fui lavador de peças, mecânico de automóveis, vendedor, motorista de transporte e de táxi, ferramenteiro, desenhista mecânico e criador/inventor de brinquedos. Trabalhei com meus irmãos Roberto Cabeludo e Waldir (in memoriam) – que me deram as primeiras noções de mecânica - e na Ford, dos saudosos Faé e João Fernandes. Trabalhei ainda na ferramentaria e na Chefia do Laboratório de Brinquedos da Metalúrgica Matarazzo. Objetivamente, minha mudança para BH foi porque eu queria fazer Física Nuclear, influenciado pelo ícone que foi Einstein à época. A praticidade, entretanto, me levou à engenharia mecânica.

 

TL – E o que o trouxe de volta?

EM – Bem! A minha separação do segundo casamento, ocorrido há dois anos, talvez tenha sido a principal causa. Eu tinha pouca coisa me prendendo a BH. De resto, toda a família dos meus pais Zico/Efigênia (Moreira’s vindos do Barreiro-Perdões) estão em Lavras. Aqui estão também minhas duas filhas (o filho ainda está em BH) e dois dos meus quatro netos (dois estão em BH). Aos 61, ainda com muita energia, também quero doar um pouco de mim às pessoas desta cidade, que sempre foi muito generosa comigo. Quiçá, encontrar a minha terceira paixão ... (risos). Sob o aspecto profissional eu não tive obstáculos para a minha vinda. Explico! Como gestor da empresa dos meus filhos, que comercializa brindes e presentes corporativos pela internet, estando em BH ou Lavras não faz diferença.

 

TL – Como colaborador deste jornal, você poderia esclarecer para os nossos leitores como você pretende atuar?

EM – As minhas experiências profissionais e pessoais são muito diversificadas, o que me dá uma visão mais holística da atuação das micros, pequenas, médias e grandes empresas na vida real. Assim, os assuntos que proponho aqui levantar serão aqueles cujos aspectos tiverem a ver com o funcionamento das empresas e as vivências das pessoas nessas organizações, tanto por parte do empregador quanto do empregado. Sobre o meu domínio das letras, entre 1990 e 1995 eu fiz, regularmente, artigos para a revista Veículo. Fiz alguns artigos também para os jornais O Estado de Minas e Diário do Comércio. Portanto, a atividade de escritor me é muito diletante. Sem contar que eu gostaria de compartilhar com a minha gente não só as complexas questões profissionais e empresariais mas também um pouco de poesia, forma manifestada meu lado pessoal.

 

TL – Você pode explicitar um pouco mais sobre as suas experiências profissionais?

 

EM – Em BH, fui ajudante de almoxarife na Bates do Brasil; mecânico na oficina Ford da Mesbla; mecânico e chefe de oficina na Prefeitura da Cidade Universitária da UFMG, além de professor de mecânica automotiva no Senai do Horto. Já próximo da minha formatura em engenharia, fui atuar como engenheiro de manutenção na Minasforte. Depois, engenheiro de vendas na Mobil Oil do Brasil e engenheiro de manutenção no Expresso Setelagoano. Iniciando o ano de 1980, ingressei na Mercedes-Benz do Brasil, onde permaneci até meados de 1990 como Coordenador de Pós-Venda (Minas, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia e Acre). Aqui eu já somava ao meu currículo mais de 2.800 horas de cursos extra curriculares (além da engenharia). No final de 1990 eu parti para a experiência como empreendedor. Criei uma empresa de consultoria empresarial, onde prestei consultorias e treinamentos para várias empresas, associações e sindicatos. Em 1994, com 35 anos atuando na área técnica veicular e em logística de transporte, viajei para Torino/Itália contratado como consultor pela VIB para atuar na IVECO (Grupo Fiat). Meu objetivo: sugerir as modificações técnicas que deveriam ser feitas nos caminhões pesados da IVECO pois iriam ser comercializados no Brasil, um país de topografia totalmente diferente da Europa - hoje, esses veículos da IVECO são fabricados em Sete Lagoas/MG com as mudanças que recomendei. Prestei consultoria também ao grupo da VIB/IVECO que planejava a abertura dos concessionários da marca no Brasil.

 

TL – Resumindo, significa que você já atuou nas áreas operacionais, gerenciais, de treinamentos e de consultorias?

EM – Sim! Mas tem mais! Só que antes, eu queria falar um pouco mais sobre treinamentos. Nesse período eu criei, apostilei e ministrei vários cursos. Dentre estes cursos posso citar: Sistema de Custos e Controles Operacionais; Administração da Manutenção; Administração de Materiais e Gestão de Estoque; Planejamento Operacional; Planejamento Estratégico; Profissionalismo na Operação Veicular; Custo Virtual; Excelência em Vendas; Gestão com Qualidade; Excelência em Serviços ao Cliente; Logística de Distribuição - Coca Cola norte de Minas; Projeto Renova Ação Shopping Del Rei; Relações Interpessoais no Trabalho; Profissionalismo Operacional; Profissionalismo para Equipe Administrativa; etc. Aliás, se este jornal me permite divulgar, eu gostaria de estar compartilhando com os profissionais da área de treinamento, Lavras e região, todo o know how em treinamentos nas empresas que acumulei ao longo dos anos. Não só a minha experiência como facilitador em cursos de treinamento, mas o meu acervo escrito. Assim, quem se interessar, favor entrar em contato.

 

TL – Você disse que tinha outras experiências além daquelas que eu citei?

EM – É! Já dei uma de jornalista. Como colaborador da revista Veículo, em 1994 fui convidado pela Volkswagen do Brasil para ir à IAA - Feira Internacional de Hanover/Alemanha, junto com jornalistas de todo o Brasil especializados na área veicular, para acompanhar e dar cobertura jornalística ao lançamento do veículo L-80, que ia começar a ser exportado para a Europa no final daquele ano.

 

TL – Que outras atuações você gostaria de citar?

EM – Na segunda metade da década de 90, como sócio da Arte Arremate, eu descobri e depurei um processo inédito de fabricação de medalhas e troféus em resinas poliéster, epóxi e estervinílica. Dado o seu ineditismo eu requeri patentes e, desde 2002, este processo está patenteado no Brasil pelo INPI (Instituto Nacional da Proteção Industrial) sob nº PI9705783-5 e nos Estados Unidos pelo USPTO (United States Patent and Trademark Office) sob nº US 6,464,812. Na área de vendas dessa empresa, em 2001 e 2002 eu montei um Sistema de Franquia. Chegamos a ter 9 franqueados. Através desta franquia, a nossa empresa esteve em foco na reportagem sobre Franquias Home-Based, pág. 82 da revista PEGN (Pequenas Empresas Grandes Negócios) Edição Especial de 13º Aniversário, Janeiro de 2002.

 

TL - Vamos falar um pouco do presente?

EM – Presente foi o que eu recebi por ter tido a oportunidade de retornar à minha terra natal. Estou muito feliz e à vontade junto com toda a minha família e amigos(as).

 

TL – E como estão os seus planos para o futuro?

EM - Sob o aspecto profissional, quero tentar transformar a Brindem em uma grande empresa. Sob o aspecto pessoal, meus objetivos nesta cidade são vários, dentre eles: restabelecer e expandir o meu círculo de relacionamentos - se a timidez, a introspecção e a minha mania de trabalho não me atrapalharem; terminar de escrever o meu livro “Empreendendo aos 50 – sem capital, sem amigos influentes e sem tetas governamentais”; e compartilhar os conhecimentos que eu prospectei, criei e armazenei. Se eu conseguir isto, será a forma de eu resgatar uma dívida de gratidão que tenho com a minha Lavras: terra dos ipês, das escolas e de pessoas que eu amo de paixão.

 

 

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