Desenvolvimento de
Líderes
Na convivência com
animais
Este
texto foi produzido, originalmente, em meados da década de 1990
e foi publicado em jornais da
época.
Desenvolvimento de
líderes - na convivência com animais.
É possível que neste momento de profundas
mudanças nas crenças e valores que ocorrem em todos os segmentos
que compõem a sociedade seja oportuno levantar a seguinte questão:
é interessante, desejável ou necessário que os líderes
empresariais, religiosos, políticos, comunitários etc, convivam
com animais? Para o desenvolvimento de crianças já é sabido que a
convivência com animais ajuda. Não que os líderes sejam
crianças, mas também são seres humanos e lidam no dia-a-dia com
questões complexas. Considerando que este assunto mereça ser
debatido e pesquisado, eu gostaria de fazer, desde já, a apologia
de um animal: o gato. Pela simples razão de que é o animal
que tem o comportamento mais aproximado com os nossos jovens
profissionais, a nossa juventude. Que por sua vez requer dos
líderes uma sensibilidade maior. Assim, o título desta defesa
poderia ser:
GATO - A companhia ideal para
líderes, homens ou mulheres.
A seguir, os argumentos. A BBDO Wordwide, uma
agência multinacional de propaganda, numa pesquisa realizada em 10
países, Brasil entre eles, detectou que o homem e a mulher do
futuro serão sensíveis, pacifistas e buscarão qualidade de vida.
Não serão workaholics (ergomaníacos), machões e feministas
ou infieis. Buscarão “ser” ao invés de “ter”. Serão mais
conscientes: de seus deveres e de seus direitos de cidadão; da sua
relação com o próprio habitat. Exemplos? O poder do
Greenpeace; o fim da guerra fria; os compromissos da ECO 92; as
leis que visam proteger a ecologia, os animais e as plantas; o
culto ao corpo; os movimentos comunitários etc.
Para os líderes do futuro, tanto homens
quanto mulheres, conviver com animais, notadamente o gato,
pode constituir-se numa rara oportunidade de introduzir em sua
vida um pouco da natureza intocada. Isto sem contar com a
possibilidade de aprender muito com eles, com sua maneira
desinibida e seu forte senso de identidade pessoal. Seja por
instinto ou egoísmo saudável, os gatos parecem estar sempre
muito satisfeitos consigo mesmo. Parecem já ter aquilo que todo
ser humano busca: a paz, a serenidade e a auto-suficiência. Com
autenticidade. Alguém já viu um gato triste, com cara de
vítima do mundo ou mesmo esquelético, como é comum acontecer com
os cães?
O gato é o mais misterioso e fascinante
dos animais que já viveram com o homem. Este felídeo (família de
animais que possuem unhas retráteis) foi o último dos animais
domesticados, ou quase. Afinal, para que ele servia? Não caçava
para o homem como o cão, nem transportava como o cavalo e tampouco
fornecia leite ou carne como a vaca. Ao contrário do cão, que
convive com o homem há 45.000 anos, as mais antigas informações
dos gatos vem do antigo Egito, há 4.500 anos. Aí o homem,
sensível como é, deixou-se encantar por este belo animal, mágico e
ágil, selvagem e indolente. Que de passagem era a única forma
eficiente conhecida de acabar com os ratos que destruíam as
provisões armazenadas.
Um animal que faz jus também a outros
adjetivos: livre, assertivo, inteligente, limpo, carinhoso, belo,
simpático, garboso, fotogênico, gracioso, plástico, harmonioso,
flexível, vivaz, misterioso, esperto etc. Uma verdadeira obra de
arte da natureza benigna. Uma máquina, entretanto, que só funciona
quando tem vontade, ou é estimulado. Muito parecido com os
adolescentes e os jovens adultos da raça homo sapiens.
Por estas características é que o gato
passou a ser adorado pelos povos antigos como se fosse uma
divindade. No antigo Egito, quem matasse um gato podia ser
condenado. Uma deusa Egípcia, chamada Bast, tinha a cabeça de
gato e simbolizava a fecundidade e a beleza. Na Índia, a
divindade felina chamava-se Sasti. Na China, o gato era
tido como símbolo da paz e da sorte. Nos países árabes do Islã,
simpatias ao gato superavam às dedicadas ao cavalo; até
Maomé tinha uma gata chamada Muezza. No Japão do século IX
o gato era alimentado e mimado como os famosos cães de
salão.
Tanta adoração e reverências só podia provocar
insatisfações. No século XII, a Igreja, não tolerando mais as
adorações ao gato, inventou uma série de mentiras e passou
a condenar o animal à fogueira alegando que o ele representava o
paganismo. A Inquisição (antigo tribunal eclesiástico instituído
com o fim de investigar e punir crimes contra a fé católica),
reunia nas suas fogueiras os hereges, as bruxas, os assassinos e
os gatos. Como fizeram com Joana D’Arc e que mais tarde foi
reconhecida como santa. Esse período negro da história da Igreja
já obrigou Papas a pedirem desculpas à humanidade. Afinal, no ano
de 1400, vítima de crueldades, a espécie gato chegou a ser
considerada “em extinção”.
De lá para cá, com defesas de grandes
líderes, tais como os escritores (La Fontaine, Shakespeare,
Alexandre Dumas, Victor Hugo), músicos (Edvard Grieg, Jules
Massenet, Tchaikóvski, Domenico Scarlatti, Rossini), pintores
(Leonardo da Vinci, Paolo Veronese, Rembrandt, Delacroix, Renoir,
Picasso), cinema (Walt Disney), religiosos (Papa Leão XII, Cardeal
Richelieu) e do rei Luiz XIV, da França (que proibiu a matança de
gatos), a figura deste animal vem sendo, aos poucos,
desmistificada. Mas a condenação do gato pela Igreja há
oito séculos ainda permanece viva em nossa cultura. Dizem que é um
animal traiçoeiro, que quando ataca o homem vai direto ao pescoço
e outras tantas mentiras. Quem não conhece casos de atropelamento
voluntário de gatos? Pessoas que dão veneno ao pobre do
animal porque acham que assim estão purificando o mundo? Você
sabia que ainda hoje pessoas sacrificam gatos pretos por
acharem que ele dá azar? Até quando esta nossa sociedade, tida
como a sociedade da informação, vai permanecer impassível diante
desta atrocidade, desta vingança sem qualquer sentido? Se a
própria Igreja Católica já reconheceu várias vezes que cometeu
erros nessa condenação aos gatos, porque cristãos,
católicos e de outras religiões, ainda continuam exterminando os
gatos? Será por maldade? Ou pior, por ignorância?
É chegada a hora de reintegrarmos o gato
na nossa sociedade, na nossa família, no nosso mundo. Mas não é só
isso. Precisamos incentivar a convivência de nossos líderes
com este animal. Pois terão muito o que aprender com ele. Com sua
espontaneidade, sua alegria de viver. Mais, aprenderão o quanto é
prejudicial a opressora afetividade humana, os jogos psicológicos
ou os jogos de poder (que o gato não aceita). Uma
experiência que, bem aprendida, pode ajudá-los nos relacionamentos
interpessoais com seus liderados: funcionários, fieis, eleitores,
clientes, família, amigos, parentes e colegas. E todos serão mais
felizes.
Erlei Moreira
é engenheiro e diretor da Transpo
Consultoria
e da Arte Arremate Ind. e Com.Ltda.
Facilitador em treinamentos
fechados e abertos.
Observador das relações ser
humano-gato.
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